domingo, 23 de dezembro de 2018

O Falso ensino da cura interior

Cura interior (psicoterapia), também chamada restauração da personalidade e restauração da alma, é um movimento neopentecostal moderno que visa a descoberta e o tratamento de problemas emocionais como medo, complexos (de inferioridade, rejeição etc.) e baixa autoestima, no intuito de que as pessoas sejam tratadas no espírito, na alma e no corpo, com ênfase na cura da alma. Coisas do passado, que foram causa de sentimentos ou pensamentos negativos, devem ser tratadas desde a raiz, segundo os teóricos da cura interior. A cura interior dá-se a partir de conhecimentos na área da Psicologia, com aplicações das passagens bíblicas respectivas e oração, dentre outras coisas. É um termo muito usado atualmente, principalmente nas igrejas que aderiram ao G12 ou em outras simpatizantes com essa nova crença.

ORIGEM
Nos anos 1980, cursos sobre o “Controle da Mente” e “Poderes Mentais” foram disseminados pelo país inteiro, ministrados em igrejas, colégios e sedes católicas, bem como em algumas igrejas evangélicas. A influência, para variar, foi recebida dos movimentos chamados “Estados de Consciência”, que proliferaram nos EUA nos anos 1970.
Inúmeros cursos invadiram o mercado nos EUA e na América Latina. Uma busca febril de técnicas ou disciplinas, com promessas de levar o indivíduo a descobrir as “forças ocultas da mente” e ao consequente domínio sobre elas, foi deflagrada sobre os mais diversos temas, criando novos métodos e escolas. Muitas destas escolas pretendem, ainda hoje, desenvolver poderes mentais, expandir certas forças e ou descobrir segredos escondidos na mente humana.
A influência das escolas ligadas ao Movimento da Nova é clara. Verologia, Logosofia, Teosofia, Anfroposofia, Rosacrucionismo, Ioga, Bioenérgética, Biorrealimentação, Psicossíntese, Controle Mental, Poderes Mentais, Parapsicologia e outras, são escolas, movimentos, seitas ou filosofias que utilizam essas técnicas para atingir as finalidades propostas.

A PRÁTICA NAS IGREJAS
Sob o pretexto de fazer um trabalho de “cura interior”, muitos líderes evangélicos mantêm nas igrejas práticas muito semelhantes àquelas realizadas nos cursos de controle da mente. Trata-se de, em particular ou em grupo, levar as pessoas à hipnose (alguns afirmam que tal estado se dá “em Espírito”) e praticar com elas, nesse estado, o que chamam de “regressão espiritual”.
O “psicopneumatólogo” (mistura de especialista em problemas psicológicos, com especialista em problemas espirituais – estou criando a palavra, na falta de um termo melhor), induz a pessoa, com orações e palavras de ordem, a voltar no tempo, até que, em determinados momentos ou “idades”, estas se deparam com o mal que deu origem ao seu atual problema. Esse mal pode ser de ordem física (uma doença ou uma agressão, por exemplo), moral (um pecado cometido, uma omissão etc.) ou espiritual (um problema de fé, um espírito demoníaco, um pacto feito com o diabo etc.).
No ato da identificação do problema, as pessoas reagem das mais diversas maneiras, quando então é feito o “tratamento espiritual” adequado. Em alguns casos há a prática do exorcismo direto; em outros, utiliza-se auxiliares para servirem de “channeling” (canal) e, na maioria, quando a pessoa volta ao estado normal, vem o aconselhamento. Muitas são levadas a fazer várias sessões de libertação e de aconselhamento, o que alguns chamam de “tratamento espiritual”. Acredita-se que todo esse processo é orientado pelo Espírito Santo, usando uns para libertarem outros.
Outra prática que tem se tornado comum nas sessões de cura interior é a chamada “quebra de maldição”, onde são abordados temas como “Maldições Hereditárias” e “Guerra Espiritual”. Acredita-se que as pessoas podem estar enredadas em uma cadeia de maldições que as acompanham durante toda a sua vida, e se manifestam como doenças, possessões e outros sintomas. Veja um testemunho sobre isso:
“Ali Deus começou a quebrar as cadeias de maldições sobre a minha vida e entrei no processo de libertação. O Espírito Santo começou a revelar-me fatos há muito esquecidos ou adormecidos no inconsciente. Tomei conhecimento de uma palavra de morte proferida no meu quarto mês de vida intrauterina, pelo médico que acompanhava a gravidez de minha mãe. Ele sentenciou que a criança a nascer não sobreviveria e prognosticou aborto inevitável.
Não obstante nasci, pela graça de Deus. Mas a morbidez sempre me acompanhou, e meus próprios lábios proferiram várias vezes que “seria melhor morrer do que viver”. Pude ver ainda, por revelação, as raízes de minha violência e agressividade: atitudes pecaminosas de antepassados que deram “direito legal” aos demônios para subjugarem a minha vida”.
Algumas igrejas ou seminários organizam grupos de cura interior com pessoas treinadas para o atendimento. O clima é o da Igreja. Cânticos, orações, leitura da Bíblia, imposição de mãos, línguas estranhas (eventualmente), breve mensagem e invocação do Espírito Santo, antecedem ou acompanham essas práticas.

A HISTÓRIA DO CRISTIANISMO DEPÕE CONTRA A CURA INTERIOR NAS IGREJAS
Quando ouvimos o discurso dos seguidores desse modismo, percebemos que querem nos convencer de que há pessoas na igreja que estão doentes na alma e precisam ser tratadas. Todavia, como fica a igreja no decorrer de todos os séculos antes de existirem as práticas de cura interior? Todos morreram “doentes” até que finalmente a igreja veio a contar com essa “tábua de salvação”? Ora, o primeiro laboratório psicológico foi fundado pelo fisiólogo alemão Wilhelm Wundt em 1879 em Leipzig, na Alemanha. A prática da cura interior ainda é mais atual. Desconfie de movimentos que prometem a “descoberta da roda”. Todos os cristãos desde o primeiro século até antes das tais “terapias da alma” estavam fadados a ser doentes e mazelados? É inconcebível essa apelação dos gurus da psicologia gospel diante do testemunho triunfante da história da igreja até hoje. De vidas libertas, transformadas, curadas e perdoadas através da fé no Senhor Jesus Cristo, da cruz, do poder da Palavra de Deus e da ação do Espírito Santo em suas vidas.

A CURA INTERIOR É UMA AFRONTA A SÃ DOUTRINA.
As Escrituras nos ensinam: “Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina” (Tito 2.1). A sã doutrina é o ensino puro, sem mistura sobre as verdades bíblicas, inclusive as verdades como a do pecado, santificação, conversão, mente cristã, restauração, Nova Aliança etc. Se você mistura a esses assuntos as teorias da psicoterapia/cura interior pode estar certo que está tornando impura a doutrina cristã. Já não é mais sã. Por isso que afirmo ser uma afronta a sã doutrina, pois todo o ensino necessário para a vida do cristão já existe e é suficiente:
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (IITm. 3.16).
“Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm. 15.4).

OS PERIGOS
1- Deformação Teológica A doutrina cristã sadia e consagrada mostra o ser humano como um ser harmônico e indivisível. Pode-se dizer, para efeito de compreensão, que o homem é composto por duas substâncias: uma material e outra espiritual (corpo e espírito-alma), harmônicas e irrevogavelmente dependentes uma da outra, sendo que a parte espiritual forma a razão que o especifica, podendo existir mesmo sem a matéria, a qual está unida de um modo substancial, que condiciona a sua própria atividade específica.
A prática da cura interior, incluindo a regressão, parte da premissa que o espírito (ou alma) é independente do corpo, que fica em estado de “descanso”, enquanto aquele vai viajar, retrocedendo no tempo, à procura da causa do problema ou da doença. Não há na Bíblia qualquer referência que autorize tal maneira de pensar ou que reforce esta ideia.
2- Animismo Tendência a pensar que todas as doenças, problemas e dificuldades tenham sua origem na alma (espírito), que seria o princípio da vida e do pensamento.
3- Hipnose O “estado alfa” ou “nível alfa” ao qual as pessoas são induzidas na prática da cura interior é o que caracteriza a hipnose. Muitos pensam “estar no espírito”, mas na realidade estão em transe hipnótico, e isso é um perigo, porque pessoas sem uma formação adequada induzem outras pessoas a um estado que aos próprios especialistas inspira muito cuidado.
A hipnose pertence ao âmbito exclusivamente médico e é regulamentada por rigorosa legislação. É total falta de responsabilidade, tanto uma pessoa induzir outra ao transe, sem conhecer cientificamente o que faz, quanto ao que se deixa induzir. Atribuir esse tipo de prática ao Espírito Santo é desconhecimento da Palavra de Deus, falta de raciocínio, ou sintoma de adiantado estado de esquizofrenia.
4- Pseudo Realidade Muitas vezes as pessoas imaginam que estão vivendo uma realidade espiritual, quando na verdade estão envolvidas por uma pseudo realidade, resultante de um “diagnóstico” causado por um estado psíquico alterado pela técnica hipnótica mal feita. Não raramente atribuiu-se todos os males a obras de demônios, numa associação esquisita com a psicanálise freudiana.
5- Arrefecimento da Fé A fé fica abalada e tende a se arrefecer, quando se acredita que “certas situações” do passado, imersas no inconsciente, podem de vez em quando vir à tona. Como saber se todas essas “situações” estão resolvidas? Para cada uma delas, naturalmente, deverá haver um tratamento especial.
Este tipo de compreensão não leva em conta, que quando Jesus Cristo nos libertou “levou sobre Si todas as nossas dores” (Is. 53.4; Mt. 8.17) e quando Ele nos liberta, nos liberta de verdade (Jo. 8.36).
6- Desvio Dos Princípios Dentre os grandes princípios dos Evangelhos estão o amor, a graça, a perseverança e a fé. A prática da cura interior e dos seus mecanismos, transforma os agentes – pastores, obreiros e demais crentes que aprenderam a usar as técnicas –, em pessoas supostamente superdotadas ou super-abençoadas.
O “outro” passa a ser apenas um centro de interesses para experimentações e programações, uma espécie de cobaia. A sensação de dominação lhes dá um ar de superioridade no tratamento com as pessoas. Todos lhes parecem doentes e necessitados do “tratamento espiritual” que só eles podem dar. Muitas dessas pessoas se tornam reducionistas e fanáticas. O perigo do desvio da Igreja é iminente. Precisam compreender bem o que o apóstolo Paulo diz em Efésios 2.8-9.
7- Ingenuidade Particularmente, considero esse tipo de prática totalmente ingênua. Primeiramente, porque a grande maioria dos que estão envolvidos nisso não têm noção dos perigos com os quais estão se envolvendo; segundo, porque acreditam firmemente nas “verdades” que as pessoas lhes dizem quando estão no estado “alfa” ou, segundo creem “em espírito”.
Ora, sabemos que a mente do ser humano é enganosa, e o cérebro tem capacidade para inventar situações e mascarar a realidade. Além disso, existe ainda a possibilidade de uma força demoníaca estar agindo para iludir as pessoas.
Contra esse argumento alguém poderá dizer que o Espírito Santo revela ou dá o discernimento necessário na hora certa. Não duvido disso, mas também tenho convicção de que as pessoas não devem sair por aí “brincando” com fogo, na esperança de que o Espírito as livre das queimaduras.

UM ALERTA
A prática da cura interior, e o uso de alguns dos seus mecanismos, como a regressão espiritual e a quebra de maldições, apresenta uma mistura mal feita de fé e ciência. Embora os argumentos utilizados envolvam a fé, a prática implica num procedimento aparentemente científico, quando trata com o inconsciente (hipnose, regressão, anamnese etc.), bem como em relação à sua metodologia (ambiente com iluminação adequada, música, posição deitada ou assentada confortavelmente, desligamento momentâneo da realidade).
Ora, a cura divina se dá pela graça e pela fé. Jesus e Seus discípulos não usaram qualquer método especial para a sua prática. Alguns gestos ou atos que acompanharam certos milagres, era essencialmente simbólicos. A oração da fé cura o doente e o Senhor o levanta (Tg. 5.15).
O cristão não carrega mais maldições sobre si. Jesus Cristo, o nosso Salvador, as carregou por nós (Gl. 3.13). É, no mínimo, ingenuidade, acreditar que uma palavra dita por alguém se transforme em maldição capaz e é de atormentar quem quer que seja.
O poder das palavras não se realiza deste modo. A palavra não é um fetiche ou um totem; não tem nenhum poder em si mesma. Não é mágica.
Cremos que Deus usa a medicina, com suas técnicas e métodos, para curar as pessoas. Sabemos que nosso Criador usa também pessoas a quem transmite o dom de curar, e que a cura divina pode se dar pela oração individual ou na comunidade de fé, por intermédio das orações, súplicas etc. Entretanto, precisamos ser sábios para separar devidamente as coisas. Se a cura é divina, não há necessidade de usar conhecimentos, métodos ou técnicas, principalmente as “científicas”, para reforçá-la.
Pelo que temos apresentado, podemos reconhecer no exercício da “cura interior” e dos seus mecanismos, algumas práticas das organizações ligadas à Nova Era: hipnotismo, regressão espiritual, uso do “channelling” (canal), desligar-se momentaneamente da realidade, assumir posições físicas diversas para facilitar a terapia (deitar-se, assentar-se e outras), fazer “tratamento” etc.
A palavra do apóstolo Paulo aos gálatas, embora se refira literalmente aos ritos judaicos, aos quais aqueles cristãos estavam dando ouvidos, servem-nos muito bem de advertência:
“Mas, quando não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses. Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?” (Gl. 4.8-9).

CONCLUSÃO
JESUS É SUFICIENTE
Disse Jesus: “Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”. (Mt. 11.28). Não tem como fingir ou fugir dessa realidade. Ora, se Jesus nos chama até ele e nos promete o alívio, porque buscar outras fontes, se creio que Jesus é suficiente na minha vida? Na verdade, muitos pastores e cristãos estão negando a suficiência de Cristo em suas vidas. Só Jesus conhece o coração humano e sabe como tratá-lo. Só ele pode fazer com que o homem seja restaurado. Na conversão, Jesus passa a fazer morada dentro do coração humano: “Respondeu-lhe Jesus: Se alguém me amar, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos nele morada” (Jo. 14.23). Como uma pessoa tem Cristo em seu coração e apela para práticas da cura interior para tratar-se? É justo o questionamento de Paulo quando diz: “Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados” (IICo. 13.5). O grande problema hoje é que os crentes não estão se convertendo, daí apelam para recursos carnais de tratamento do coração (alma).
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Bibliografia:
Nova Era e Velhas Mentiras, J. Cabral, Editora Gráfica Universal, 1ª edição, 1995.

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